VOCAÇÃO FAMILIAR

Santos e Kátia¹

“Deus, criador de tudo, criou o homem e a mulher como efusão de seu amor. Amou-os infinitamente e lhes deu uma vocação ao amor e à comunhão. A família, consequência dessa vocação, é dentre todas as suas obras, a obra predileta de Deus nesse seu projeto de amor.” (Diretório da Pastoral Familiar – Doc. 79 – CNBB n° 45)

O mês de agosto é dedicado às vocações, por isso, cada semana é dedicada à reflexão acerca de um chamado especial ao cristão, a começar pelo domingo, onde a Celebração Litúrgica é destinada a uma vocação específica. Nessa organização da Igreja, a segunda semana é dedicada à Vocação Matrimonial, começando no Dia dos Pais e terminando no sábado seguinte. Nesse ínterim, acontece a Semana Nacional da Família em toda a Igreja do Brasil.

Sabe-se que a vocação está radicada na família, dessa forma a Igreja, no domingo seguinte ao Natal do Senhor, traz para nós a Sagrada Família de Nazaré. Sendo iluminada pelo Espírito Santo, a Igreja reconhece que a Família é algo sagrado porque ela é uma instituição divina. Deus se fez carne e assumiu a humanidade em uma Família. A humanidade não pode se arvorar sem a Família. Deus é uma família, são três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

São João Paulo II, na exortação apostólica “A missão da família cristã no mundo de hoje”, ao refletir sobre os deveres da família cristã, ressalta que:

No mundo de Deus Criador e Redentor, a família descobre não só a sua “identidade”, o que “é”, mas também a sua “missão”, o que ela pode e deve “fazer”. As tarefas, que a família é chamada por Deus a desenvolver na história, brotam do seu próprio ser e representam o seu desenvolvimento dinâmico e existencial. Cada família descobre e encontra em si mesma o apelo inextinguível, que ao mesmo tempo define a sua dignidade e a sua responsabilidade: “Família, torna-te aquilo que és! (JOÃO PAULO II, 1981, p. 29).

Da família procedem todas as vocações, e é nela e dela que homens e mulheres sairão incursos com a vontade de Deus, com a vida e com a sociedade. No entanto, é essencial assumir a sua missão. As vocações sacerdotais, leigas e religiosas terão seu enraizamento em uma base familiar, pois não é possível pensar em qualquer vocação sem antes pensar na família.

Mais uma vez cita-se São João Paulo II, quando afirma que “a família cristã é, deste modo, animada e guiada pela nova lei do Espírito Santo e em íntima comunhão com a Igreja, povo real, chamada a viver o seu “serviço” de amor a Deus e aos irmãos.” (JOÃO PAULO II, 1981, p. 105).

Olhando por esse prisma, entende-se que é responsabilidade da Igreja acompanhar a família cristã em sua peregrinação nesta terra. A família é convidada a praticar as suas virtudes em comunidade, testemunhando a santidade de uma vida indubitável e autêntica em um mundo cada vez mais fragilizado pela violência e pela inércia com relação a Deus.

Em unidade com a Igreja, a família cristã busca cada vez mais desempenhar o seu papel no mundo com amor e caridade para a instauração do Reino de Deus que terá seu ápice na glória eterna.

O Papa Francisco, na exortação apostólica pós-sinodal “Amoris Laetitia”, sobre o amor na família, afirma que: “diante das famílias e no meio delas, deve ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o “mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário” e deve ocupar o centro da atividade evangelizadora”. (Francisco, 2016, p. 55).

As palavras de Sua Santidade evidenciam a importância da fundação da família na Igreja, no meio social e na edificação do Reino de Deus, sendo a família um fermento que faz crescer a massa do amor, da fraternidade, da ternura e da união. Jesus confia parte de sua missão à Família. Sendo assim, a Igreja, na sua sapiência, sendo conduzida pelo Espírito Santo, cumpre sua missão inestimável, dando assistência e apoio às famílias, começando pela iniciação à vida cristã.

Como cristãos batizados, jamais podemos esquecer-nos da primeira e mais importante vocação: somos vocacionados à santidade. Com base nisso, a Pastoral Familiar e o ECC trabalham fervorosamente para que a busca da santificação seja constante no seio familiar.

Faz-se necessário lembrar que a Pastoral Familiar abrange todas as famílias, independentemente de sua situação familiar, com o propósito de promover a inclusão e resgatar os valores e a dignidade de cada pessoa. Tem como grandes metas: fazer da família uma comunidade cristã; fazer com que a família seja santuário da vida; resgatar para a família seu justo valor de célula primeira e vital da sociedade; tornar a família missionária e Igreja doméstica.

Vendo por essa ótica, percebe-se que a missão evangelizadora da Pastoral Familiar é a defesa e promoção da pessoa em todas as etapas e circunstâncias da vida e a defesa dos valores cristãos para o Matrimônio e os relacionamentos pessoais e familiares.

O Encontro de Casais com Cristo (ECC), “sendo um serviço da Igreja em favor da evangelização das famílias”,

[…] procura construir o Reino de Deus aqui e agora, a partir da família, da comunidade paroquial, mostrando pistas para que os casais se reencontrem com eles mesmos, com os filhos, com a comunidade e, principalmente, com Cristo. Para isto, busca compreender o que é ser Igreja hoje e de seu compromisso com a dignidade da pessoa humana e com a justiça social. A evangelização do matrimônio e da família é missão de toda a Igreja, em que todos os fiéis devem cooperar segundo as próprias condições e vocações. Deve partir do conceito exato de matrimônio e de família, à luz da Revelação, segundo o Magistério da Igreja.” (DN, p. 15).

Reitera-se, a partir da missão da Pastoral Familiar e dos objetivos pastorais do ECC, que a vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus, e que cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito. O amor de Deus exprime-se através das palavras vivas e concretas com que o homem e a mulher se declaram o seu amor conjugal.  Assim, os dois são entre si reflexos do amor divino, que conforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a carícia, o abraço. Por isso, diz o Papa Francisco: “querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só. (AL 321).

À guisa de conclusão, citamos as palavras do Papa Francisco:

Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegrai a tua doação. Está casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja.” Gaudete et Exsultate – Sobre o chamado à santidade no mundo atual (GE, 14).

Que a Sagrada Família de Nazaré nos ilumine e nos ajude a trabalharmos pelas Famílias, a fim de que possam resgatar o valor inalienável de “berço de todas as vocações”, especialmente, as sacerdotais e as matrimoniais.

  1. Casal Diocesano do ECC da Diocese de Pinheiro-MA

1 Comentário

  • Parabéns ao casal Santos e Kátia, sempre muito inspirado e catequético nos seus artigos sobre a família!

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