NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO E A IDENTIDADE DIOCESANA

Arthur Aurélio¹

Carlos Fernando S. Brito²

Estamos findando o Mês de Maio em que a Mãe Igreja dedica de maneira especial a devoção a Santíssima Virgem Maria e que a nossa Igreja Diocesana de Pinheiro celebra sua excelsa Rainha e Padroeira, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Esta ocasião festiva é um importante momento de pensarmos sobre o papel de nossa Padroeira na construção de uma identidade diocesana, ou, utilizando um vocábulo teológico-eclesial, de nossa diocesaneidade.

À luz da obra “Diocesaneidade: esponsalidade e incardinação” (Paulus, 2020) podemos definir a diocesaneidade como correspondente à pertença e ao amor que se tem e manifesta-se para com a sua Diocese; com o respeito e o carinho que se tem para com o bispo diocesano, figura da unidade diocesana; ao compromisso com a fraternidade eclesial e ao amor incondicional a todos da comunidade diocesana, especialmente os pobres. Aqui queremos chamar atenção para o fato de que a celebração da Padroeira diocesana possui o potencial de expressar e, ao mesmo tempo, esclarecer a nossa identidade enquanto Igreja Particular de Pinheiro, isto é, a nossa diocesaneidade.

A devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração está presente neste episcopal território desde a chegada dos primeiros padres Missionários do Sagrado Coração, vindos da Itália, no já distante 15 de agosto de 1946, festa da Assunção de Nossa Senhora, que, conforme os relatos da época, ao adentrarem a Igreja Matriz de Pinheiro (hoje Catedral Diocesana), quão grande foi a alegria destes Missionários ao avistarem a imagem da Tesoureira do Sagrado Coração, para eles sinal do amparo e da proteção da Mãe aos seus filhos que acabavam de chegar nestas terras de missão. 

Após quatro anos da chegada dos primeiros Missionários e já sob a égide de Dom Afonso Maria Ungarelli, MSC, como primeiro bispo prelado, Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus foi declarada Padroeira Principal da então Prelazia de Pinheiro, através de Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, datado de 3 de julho de 1950. Portanto, há 72 anos nossa Igreja Diocesana caminha sob o amparo desta Mãe Dadivosa. 

Inúmeros são os relatos que corroboram a sua constante proteção sobre este povo e Igreja a ela dedicados. Entre estes se inclui os sinais prodigiosos acontecidos na Praça da Catedral, em 10 de setembro de 1953, no qual as lâmpadas que circundavam o extinto pedestal da estátua de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em frente à Matriz de Santo Inácio, tinham-se acendidas de modo inexplicável, extraordinário e prodigiosamente por três vezes. Na época, a cidade de Pinheiro não possuía energia elétrica e o motor gerador que fornecia energia estava queimado há meses. Justamente nessa noite, com sua materna bondade, Nossa Senhora visitava à sua maneira a este povo que tanto a ama e a venera. Este fato ficou conhecido como “milagre das luzes”, que, posteriormente, fora objeto de um processo canônico instalado por Dom Afonso.

Em 1974, a Sagrada Congregação para o Culto Divino decidiu por bem transferir a mencionada Festa de Nossa Senhora do Sagrado Coração para o dia 31 de maio, encerramento do mês mariano, concedendo a autorização de celebrar a Festa da Visitação de Nossa Senhora um dia antes, 30 de maio, para que não houvesse confluência em ambas as festas.

A imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, segundo o Pe. Júlio Chevalier, fundador dos Missionários do Sagrado Coração, é representada segurando o Menino Jesus e apresentando Jesus ao mundo. Com uma mão ela segura seu Filho e com a outra Maria aponta para ele, tocando o seu coração. Maria nos leva ao Coração de Jesus, nos leva à pessoa de Jesus. Toda a vida de Maria foi e é dedicada a nos levar a Jesus, a nos apresentar o Coração de Jesus como modelo para o nosso coração. Jesus, por sua vez, na imagem, aponta para o Seu Coração e com a outra Ele aponta para sua Mãe Santíssima, manifestando seu lugar: depois de Cristo, na Igreja, o lugar, ao mesmo tempo mais alto e mais próximo de nós (Lumen Gentium, n. 54).

Neste dia em que toda a Igreja Diocesana reverencia a “Serva do Senhor” devemos nos perguntar o que essa devoção tem a nos ensinar sobre nosso modo particular de ser Igreja. A história de nossa relação com N. Sr.ª do Sagrado Coração nos ensina sobre a proteção dadivosa dela para com nossa Igreja Particular e a mística de sua simbologia nos quer transmitir o vigor missionário que brota do coração de Cristo. Deste modo, podemos dizer que o dia 31 de maio deve ser para nós um momento de expressar dois elementos essenciais de nossa diocesaneidade pinheirense: o carinho protetor pela Virgem e o ímpeto missionário que dela aprendemos.

Que possamos aprender a permanecer na escola de Maria, para que neste período de conflitos, divisões e dificuldades ela nos leve a Jesus para que renasça a aurora da esperança, da fé e da fraternidade para toda esta Igreja Pinheirense que caminha sob o estandarte da Virgem do Sagrado Coração.

  1. Graduado em Comunicação Social – Publicidade e propaganda;
  2. Graduado, Especialista e Mestre em Filosofia. Doutorando em Filosofia (UFMG) e Professor do Departamento de Filosofia e Educação da UEMA.

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