MÊS DA BÍBLIA: A CARTA AOS EFÉSIOS

Pe. Anderson Pereira¹

Durante todo o mês de setembro, a Igreja Católica no Brasil celebra o Mês da Bíblia. A cada ano, recomenda-se especificamente um escrito bíblico para leitura, meditação e aprofundamento. Para este ano, foi escolhida a Carta aos Efésios, com a seguinte iluminação: “Vestir-se da nova humanidade!” (cf. Ef 4,24).

A Carta aos Efésios é um dos 27 livros do Novo Testamento. Ela é dirigida “aos santos e fiéis em Cristo Jesus” (1,1). Algumas traduções trazem a adição “que estão em Éfeso”, considerada ausente no texto primitivo, embora alguns críticos a considerem autêntica. Segundo os estudiosos, trata-se de uma carta escrita entre os anos 60 d.C., atribuída à escola paulina e destinada às Igrejas de origem paulina. Certamente, o autor anônimo, conhecedor dos ensinamentos de Paulo, usou o nome do Apóstolo na autoria para dar autoridade ao escrito. É a questão da pseudoepigrafia na Antiguidade que consiste na vontade de continuar o pensamento do Apóstolo após sua morte. Os destinatários são convidados a receber a mensagem como sendo do próprio Apóstolo. Por não ser genuinamente paulina, é chamada de deuteropaulina. É considerada parte do conjunto das chamadas “Cartas do cativeiro”, pois “Paulo” apresenta-se como prisioneiro (Filipenses, Efésios, Colossenses e Filemon). Conjectura-se ser uma carta circular de tipo universal, ou seja, endereçada às várias Igrejas da região de Éfeso (atual Turquia).

Em essência, é uma carta de cunho eclesiológico, pois tem como tema central a Igreja universal, povo de Deus, esposa de Cristo, corpo em crescimento. Nela, aprofunda-se o pensamento sobre a Igreja: não se trata mais de igrejas locais, mas de um sentido muito mais universal. A Igreja é descrita sob três imagens: esposa (5,22-23), corpo (1,23; 4,16) e edifício ou construção (2,19-22). É uma carta sobre o mistério de Cristo e da Igreja.

A Carta aos Efésios possui notável semelhança de estilo e de doutrina com a Carta aos Colossenses. Nesse sentido, Efésios parece uma reescritura eclesiológica de Colossenses. Basta comparar a mesma missão de Tíquico em Cl 4,7 e Ef 6,21; Paulo na prisão Cl 4,3.10.18 e Ef 3,1; 4,1; 6,20. Podemos comparar ainda Cl 2, 6-19 e Ef 4, 4-16 ou Cl 3, 18-25 e Ef 5, 21- 6,9.

A Carta aos Efésios possui seis capítulos e, didaticamente, pode ser dividida em duas grandes partes: a primeira parte doutrinal, dos capítulos 1 ao 3 e a segunda parte exortativa, dos capítulos 4 ao 6.

Após apresentação e saudação aos destinatários (1,1-2), a primeira parte traz um hino sobre o plano divino da salvação coma uma série de bênçãos no estilo da liturgia judaica (1,3-14) e apresenta a revelação do mistério de Cristo (2–3), concluindo com uma oração para o conhecimento do amor de Cristo (3,14-21). O coração dessa parte está em 2,14 onde o Cristo é saudado como “nossa paz”. Algumas palavras-chave dessa primeira parte: benção, eleição, adoção, redenção, recapitulação, dom do Espírito, esperança da herança. A recapitulação é obra da graça, resultado do perdão redentor. A criação começa agora com o Homem Novo (cf. Cl 1,19-20) revestido de nova humanidade. Assim, “vestir-se da nova humanidade!” (Ef 4,24) remete a profunda transformação que a fé em Cristo pode operar em nossas vidas. Paulo nos exorta a abandonar os velhos padrões de comportamento, marcados pela ignorância de Deus, e nos convida a vestir uma nova maneira de viver, em conformidade com a vontade de Deus.

Essa “nova humanidade” não se refere apenas a um conjunto de regras ou de práticas externas, mas a uma transformação interior que afeta nossa mente, nosso coração e nossas ações. É uma mudança que nos leva a refletir os valores do Reino de Deus em nosso modo de vida.

A segunda parte traz exortações para a vida em Igreja. Discorre acerca da unidade da Igreja e diversidade dos ministérios (4,1-16); as exigências da vida cristã (4,17–5,20); exortação sobre os deveres domésticos – casamento, filhos e pais, escravos e senhores – (5,21–6,9); o combate espiritual, ou seja, um chamado ao compromisso dos cristãos para sustentar a luta contra as potências adversas. É preciso revestir as armas da luz que são as armas do próprio Deus (6,10-20). Paulo conclui com notícias pessoais e a saudação final (6,21-24).

Em largos traços, ao lermos a Carta aos Efésios, somos desafiados a refletir sobre como podemos, em nosso cotidiano, vestir essa “nova humanidade” que Cristo nos oferece. Que possamos permitir que Ele opere em nós, moldando-nos à imagem do Filho de Deus, para a glória d’Ele e para o bem do mundo ao nosso redor.

  1. Padre diocesano da Diocese de Pinheiro-MA. Atualmente cursa mestrado em teologia (PUC-SP)

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