A RESSURREIÇÃO DE JESUS E A OUSADIA MISSIONÁRIA
Waldeylson Silva Marques¹
A pandemia da COVID-19 parece ter imposto um estado de dormência da ação missionária às nossas comunidades, pastorais, grupos e movimentos. Para compreendermos esse estado de apatia, tomemos como exemplo a comunidade dos discípulos que ainda impactada pelo episódio da cruz tem dificuldades de vivenciar a plenitude da experiência da ressurreição do Cristo. Em Jo 21, 1-19, nos é apresentada uma comunidade em crise missionária, desiludida por não terem mais o seu Senhor entre eles, acabrunhados e presos no escândalo da cruz. Não seria este um retrato da atualidade?
Como em nossos dias, no episódio bíblico, a figura de Pedro é fundamental nessa narrativa. Ele que lidera os sete discípulos a beira do mar de Tiberíades (esse é um dado importante). É ele, também, no versículo 3, que diz “eu vou pescar”. Pedro é uma liderança, mas está pra baixo, triste e sem perspectiva. A ação dele de ir pescar denota um retrocesso na natureza de sua missão. Quem era Pedro? Pescador de peixe. Para que ou a que Jesus chamou Pedro? A ser pescador de gente. Mas, eis um Pedro em marcha ré e, mais grave ainda, arrastando consigo os demais discípulos.
O grande perigo para as nossas lideranças hoje em dia é sofrer da síndrome do Pedro desmotivado, retroceder na missão, não enxergar a presença do ressucitado, não ser homens e mulheres da esperança, e portanto, ser um sinal de paralisia para os outros que estão a sua volta. Uma boa ação pastoral, um bom coordenador, deverá ter a capacidade de ver além do insucesso. É preciso superar as paralisias que a COVID-19 deixou em nossas paróquias, é preciso ousar, sacudir o desânimo e ir em frente. Após o encontro com o mestre ressuscitado a comunidade ganha novo vigor, novo entusiasmo missionário. Pedro se veste, põe o avental do serviço e se atira ao mar. Eis o ponto fundamental.
Parece-nos claro que as comunidades, pastorais, grupos e movimentos que desejem sair do estado de isolamento pandêmico, da noite escura e da pescaria mal sucedida deverão abraçar uma vez mais aquela ousadia missionária que não procura justificar seu desânimo colocando a culpa no próprio povo, tampouco deverão se deixar guiar por “Pedros” retrógrados, pessimistas e desanimados na missão. Uma comunidade missionária animada pela presença do ressuscitado assume os perigos das navegações tempestuosas, enfrenta o risco e os dessabores do tempo presente.
A experiência com o ressuscitado nos chama a sermos uma Diocese ousada pastoralmente, capaz de testemunhar Jesus em meio aos desafios do hoje sem deixar de ousar e anunciar a boa notícia. Após a noite escura é tempo de lançar novamente as redes e para isso é preciso propor novos caminhos, traçar novas metas, gestar novos modos e jeitos de ser Igreja, pois “é preciso obedecer a Deus antes que aos homens (At 5 29). A vitória de Jesus sobre a morte é a nossa vitória e, por conseguinte, é a vitória da nossa ação pastoral também. Não permitamos que nossa pastoral deixe de conhecer a ressurreição!
- Seminarista diocesano cursando o 7º período de Teologia e especialização em Doutrina Social da Igreja. Graduado em Filosofia e especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Assessor diocesano da Pastoral da Juventude.
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