34º ANO DO FALECIMENTO DE DOM AFONSO MARIA UNGARELLI MSC

Era o dia 23 de maio de 1988, às 20h55, no Asilo São Vicente, cidade de Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, Dom Afonso Maria Ungarelli partiu ao encontro daquele que o criou com a bela e bem vivida idade de 91 anos. No dia 25 de maio, realizando sua expressa vontade, seu corpo chegou a Pinheiro e no dia seguinte seus restos mortais foram depositados na Catedral Diocesana, para permanecer para sempre com o povo pelo qual tanto trabalhou e viveu.

Por ocasião de sua Páscoa, o Bispo Diocesano Dom Ricardo nos ofereceu um vivo e preciso relato sobre este intrépido pastor, que vale a pena ter um fragmento reproduzido, como se segue: “A vida deste grande Atleta de Deus podia ser resumida em poucas palavras: Homem de fé e oração. Homem de fé na providência, fé no Cristo Salvador, devoção terna e filial à Virgem e a São José. A celebração da Missa, cuidadosamente preparada, a meditação, a recitação atenta e cronologicamente distribuída pelas horas do breviário, o terço (melhor, o Rosário) rezado diariamente, são expressões de sua fé e de seu espírito de oração. Estas qualidades eram bem notadas pelas pessoas que o conheceram, chamando a atenção de padres, leigos e bispos. Mesmo assoberbado de tarefas, quase sem tempo disponível, Dom Afonso sempre procurou estar atualizado em Teologia, adquirindo livros novos sobre o assunto, lendo, informando-se, procurando estar a par das descobertas recentes dos teólogos. Fidelidade a Pedro, bem marcante esta característica de Dom Afonso, o acato, o respeito às decisões do Papa, a fidelidade incondicional à Cátedra de Pedro juntamente com o ardente desejo de manter viva a colegialidade episcopal, entristecendo-se com as falhas, os desentendimentos ou possíveis rupturas entre Bispos. Ninguém desconhece sua preocupação pela pureza da fé, pela exata observância das prescrições litúrgicas, pela disciplina eclesiástica. Homem de uma tempera rija. Com uma saúde invejável, uma capacidade de trabalho excepcional, todos que o conhecem se admiram de sua atividade com essa idade, deixando atrás muita gente nova ou cansando novos que com ele trabalhavam. A luz acesa, por volta das três da madrugada, o início das orações diárias e dos trabalhos de cada dia são provas dessa operosidade que lhe é característica”.

Dom Afonso participou ativamente do Concílio Vaticano II (1962-1965), a “inesperada flor de primavera” da Igreja, onde se destacou entre os Bispos brasileiros por sua erudição, mas também por seu cuidado pastoral-missionário refletido em suas intervenções. Ainda na fase ante preparatória, em 1959, Dom Afonso elaborou um opúsculo intitulado “Sobre a participação dos leigos no múnus pastoral”, em que, partindo das necessidades pastorais, propõe aquilo que hoje o Papa Francisco concretizou com um ministério dos catequistas.

Dom Ungarelli figura ainda, juntamente com seu amigo Dom Helder, entre os oito Bispos brasileiros convocados a contribuir na fase preparatória do Concílio (1960-1962), sendo nomeado pelo Papa como consultor na Comissão da Disciplina dos Sacramentos. Já no Primeiro Período do Concílio (11 de outubro a 08 de dezembro de 1962), Dom Ungarelli é o 9º eleito entre os Bispos do mundo todo para compor a Comissão conciliar das missões.

Durante os quatro períodos do Concílio Dom Ungarelli fez inúmeras intervenções nas Audiências Gerais, sendo o 20º Bispo brasileiro em número de participações. Suas intervenções versavam sobre a necessidade de renovação do conceito e da teologia da missão, da possibilidade de criação de novos ritos litúrgicos para atender as áreas de missão e promover o diálogo ecumênico e sobre a importância da valorização dos leigos. O resumo de uma de suas intervenções pode ser constatado na nota 37 do número 6, quando falou em nome de todos os bispos prelados da América Latina, e no número 17 do Decreto Conciliar Ad gentes, sobre a atividade missionária da Igreja. Sua atuação conciliar fora valorosamente reconhecida no Brasil de modo que, logo após o Concílio, Dom Ungarelli foi eleito responsável pelo setor missionário da CNBB, onde atuou por muitos anos.

Em nossa Diocese, para além de sua reconhecida atuação em obras pastorais não tangíveis, devemos a ele o mérito da Fundação da Escola N. S. do Sagrado Coração no Bairro Matriz, Pinheiro (onde hoje funciona a Casa Paroquial), o Colégio Pinheirense, o então Seminário São José, que funcionou em Pinheiro e de onde brotaram os primeiros sacerdotes religiosos nativos (Pe. Thomaz Beckman, Pe. Antônio Carlos Ribeiro, Pe. Almir Lima Silva e Pe. Geraldo Lima Silva), o Patronato São Tarcísio (onde hoje funciona a Cúria Diocesana), a vinda das primeiras Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração, o Hospital Nossa Senhora das Mercês, a Escola da Fé para os catequistas, a Vila Gen, o Teatro Guarapiranga e a Escola Paroquial São José, estes últimos na cidade de Guimarães, além da vinda de muitos novos missionários para a então Prelazia de Pinheiro. 

Seu lema episcopal “do forte saiu a doçura” (Jz 14,14) representa toda sua dedicação em fazer acontecer em nossa terra a doçura do reinado de Deus. Carinho e gratidão de toda esta Igreja de Pinheiro e rogamos ao Criador e a bem-aventurada Virgem Maria que recompense ao nosso intrépido Pastor por todo o bem realizado a nós.

(Arthur Aurélio, Pe. Anderson Pereira, Carlos Fernando Brito)

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